CENTO
Lucas Redó
A essa altura eu entrava no banheiro para vomitar, imagina coisas que caem, desenha mentalmente as suas trajetórias. Não sou amigo de ninguém, era uma arte feita em silêncio. Falo-te das paredes de casa, o velho cabelo branco, fecho os olhos cansados. A porta se abriu, a noite esfriou, havia até uísque, cerveja, vinho. Eu fiquei sentado na soleira da porta à espera da cura.
Quando eu morrer batam em latas, a morte é um lugar subterrâneo. Bebi um gole e pousei o copo na mesa. Negada a verdade, não temos com que entreter-nos senão a mentira. Faz 2 noites que não durmo, estou morto, o meu corpo é um planeta entregue a órbitas elípticas. A treva mais estrita já pousara sobre a estrada. A festa acabou. Morrerei no silêncio.
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Lembra-te do escuro dos corredores, é preciso estar sempre bêbado de vinho ou do olhar longuíquo das viúvas. O velho Sánchez é um gênio, a máquina de foder, mas o único que sabe disso sou eu. Revestia-se insolentemente de púrpura e pérolas preciosas. Um belo moço, um belo livro. O rapaz é um grisalho filósofo, de ancas e ombros, e bebe bagaço com limonada. “É preciso estar sempre bêbado”, e Sánchez já foi aprovado no teste, é bem-humorado e mágico, escreve muito bem, mas não está interessado em ser famoso. A consciência é o que torna o problema da mente-corpo verdadeiramente penoso, reforma aquilo a que a fé não chegou. Para Sánchez às vezes a coisa fica um verdadeiro show de terror e a única saída é a morte, então se dissipam as trevas noturnas: as visões, os pesadelos, as aparições no espelho. “Lembra-te do escuro dos corredores...”. Mas eis que o vento boreal escapa de sua morada e devolve ao dia sua luz. Mas a morte é um lugar no interior da luz, a minha terra é o lugar, a minha ausência. Todos nós passamos por isso. A cerveja me deixa meio alto, o esperma, 10 punhetas. Sánchez molha os lábios dele com a língua, passa por mim feito rolamentos, respondo com uma risada. Repetia percorrendo órbitas como corpos celestes, um golpe que te rasgas os pulsos. Sou êxtase, luar, deslumbramento, pedindo à forma, em vão, a ideia pura. E não estou, nenhuma veia em mim murmura.
Lucas Redó
A essa altura eu entrava no banheiro para vomitar, imagina coisas que caem, desenha mentalmente as suas trajetórias. Não sou amigo de ninguém, era uma arte feita em silêncio. Falo-te das paredes de casa, o velho cabelo branco, fecho os olhos cansados. A porta se abriu, a noite esfriou, havia até uísque, cerveja, vinho. Eu fiquei sentado na soleira da porta à espera da cura.
Quando eu morrer batam em latas, a morte é um lugar subterrâneo. Bebi um gole e pousei o copo na mesa. Negada a verdade, não temos com que entreter-nos senão a mentira. Faz 2 noites que não durmo, estou morto, o meu corpo é um planeta entregue a órbitas elípticas. A treva mais estrita já pousara sobre a estrada. A festa acabou. Morrerei no silêncio.
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Lembra-te do escuro dos corredores, é preciso estar sempre bêbado de vinho ou do olhar longuíquo das viúvas. O velho Sánchez é um gênio, a máquina de foder, mas o único que sabe disso sou eu. Revestia-se insolentemente de púrpura e pérolas preciosas. Um belo moço, um belo livro. O rapaz é um grisalho filósofo, de ancas e ombros, e bebe bagaço com limonada. “É preciso estar sempre bêbado”, e Sánchez já foi aprovado no teste, é bem-humorado e mágico, escreve muito bem, mas não está interessado em ser famoso. A consciência é o que torna o problema da mente-corpo verdadeiramente penoso, reforma aquilo a que a fé não chegou. Para Sánchez às vezes a coisa fica um verdadeiro show de terror e a única saída é a morte, então se dissipam as trevas noturnas: as visões, os pesadelos, as aparições no espelho. “Lembra-te do escuro dos corredores...”. Mas eis que o vento boreal escapa de sua morada e devolve ao dia sua luz. Mas a morte é um lugar no interior da luz, a minha terra é o lugar, a minha ausência. Todos nós passamos por isso. A cerveja me deixa meio alto, o esperma, 10 punhetas. Sánchez molha os lábios dele com a língua, passa por mim feito rolamentos, respondo com uma risada. Repetia percorrendo órbitas como corpos celestes, um golpe que te rasgas os pulsos. Sou êxtase, luar, deslumbramento, pedindo à forma, em vão, a ideia pura. E não estou, nenhuma veia em mim murmura.