VINTE E SEIS PASSOS ATÉ A LOUCURA
Chalegre Villas Bôas
Vinte e seis passos até a loucura – antes
Tens perdido partes de si. Quando sais de casa, deixas-te em partes em lugares e com gentes. Os teus pais, quando voltares a visitá-los, ficarão confusos e perguntar-te-ão onde está aquela criança que criaram para sorrir e dançar. Os teus amigos, quando finalmente respondê-los no WhatsApp, dirão que já não há mais festa e que a tua ausência foi sentida. Tu, quando te vires no espelho, perceberás que te falta um olho do lado direito do teu rosto e que te falta uma parte da cabeça.
Quando, num suspiro de nostalgia, te lembrares dos teus poemas prediletos, não conseguirás declamá-los sem consultar os livros, e quando buscares na estante o livro rosa ou o verde ou o da pintura do anjo, encontrarás apenas vazios nas prateleiras, ninhos para as lembranças do passado, agora náufragas na tua memória.
Não chorarás a morte deste teu eu perdido, porque sequer concebes que nunca mais escreverás um poema, que nunca mais dançarás um tango argentino ou dormirás sob as estrelas tão esparsas quanto tu. A tua esperança de que um dia te invadirá um gênio qualquer, uma aparição gêmea que não perdeu o que perdeste, não é infundada, mas também não representa necessariamente o teu futuro.
Se algum dia te enfiares numa sala escura com uma taça de vinho cheia ao lado do computador, a fitar um documento do Word e a escrever fervorosamente como se pudesses finalmente depois de anos respirar, como se pulsasse o coração mais uma vez depois de anos vazio, talvez te sintas menos perdido, mais inteiro.
Entretanto chove e choras. Confundes a poética com a tua vocação, a tua raison d’être – se é que há tal coisa no teu corpo ou no mundo – quando na realidade vives os poemas que não escreves diariamente. Se és médico mesmo quando a lavar as roupas sujas, não deixas de ser poeta apenas porque já não escreves.
Perdeste-te de ti, das tuas tantas tonturas e vertigens, hoje já não olhas para os arranha-céus como a criança que queria devorar as nuvens, mas não deixaste de ser gente que ri quando vê um gato numa caixa. Sentes-te menos do que o garoto que foste, embora sejas para ele um gigante que torreia o seu mundo.
O importante é sorrires e fazeres sorrir. Talvez assim faças da poesia um pincel, talvez assim voltes a criar e a apreciar aquilo que perdes; e aquilo que ganhas.
Vinte e seis passos até a loucura – depois
Tens perdido partes de ti. Quando sais de casa, deixas-te e partes e lugares e co gentes. Os teus pais, uando voltares a visitá-los, ficarão confusos e perguntar-te-ão onde está auela criança ue criara para sorrir e dançar. Os teus agos, uando fnalente respondê-los no WhatsApp, drão ue já não há as festa e ue a tua ausênca fo sentda. Tu, uando te res no espelho, perceberás ue te falta u olho do lado dreto do teu rosto e ue te falta ua parte da cabeça.
uando, nu suspro de nostalga, te lebrares dos teus poeas predletos, não consegurás declaá-los se consultar os lros, e uando buscares na estante o lro rosa ou o erde ou o da pntura do anjo, encontrarás apenas azos nas prateleras, nnos para as lebranças do passado, agora náufragas na tua eóra.
Não coaás a ote deste teu eu peddo, poue seue concebes ue nunca as esceeás u poea, ue nunca as dançaás u tango agentno ou doás sob as estelas tão espasas uanto tu. A tua espeança de ue u da te nadá u gêno uaue, ua apação gêea ue não pedeu o ue pedeste, não é nfundada, as tabé não epesenta necessaaente o teu futuo.
Se gu d te enfes nu s escu co u tç de no ce o do do coputdo, ft u docuento do Wod e escee feoosente coo se pudesses fnente depos de nos esp, coo se pussse o coço s u ez depos de nos zo, tez te snts enos peddo, s nteo.
Entetnto coe e co. Confnde poétc co t ocço, t on d’ête – e é e á t co no te copo o no ndo – ndo n edde e o poe e no ecee dente. e é édco eo do op j, o dex de e poet pe poe já o ecee.
Pedete-te de t, d t tt tt e etge, je já p -cé c cç e e de e, dexte de e gete e d ê gt cx. ee-e e d e g e fe, eb ej p ee gge e e e d.
e é e e fzee . ez fç d e ce, ez e c e ec e ede; aqlo q ganhas.
PROCEDIMENTO
Para escrever consoante este processo, escreva ou selecione um texto. A cada linha, frase, verso, palavra ou parágrafo, subtraia uma letra ao texto sem fazer quaisquer correções, até o texto se tornar praticamente incompreensível.
O texto que escrevi de título homônimo ao processo possui uma única subversão à regra: as últimas quatro palavras recebem novamente algumas letras antes subtraídas.
Chalegre Villas Bôas
Vinte e seis passos até a loucura – antes
Tens perdido partes de si. Quando sais de casa, deixas-te em partes em lugares e com gentes. Os teus pais, quando voltares a visitá-los, ficarão confusos e perguntar-te-ão onde está aquela criança que criaram para sorrir e dançar. Os teus amigos, quando finalmente respondê-los no WhatsApp, dirão que já não há mais festa e que a tua ausência foi sentida. Tu, quando te vires no espelho, perceberás que te falta um olho do lado direito do teu rosto e que te falta uma parte da cabeça.
Quando, num suspiro de nostalgia, te lembrares dos teus poemas prediletos, não conseguirás declamá-los sem consultar os livros, e quando buscares na estante o livro rosa ou o verde ou o da pintura do anjo, encontrarás apenas vazios nas prateleiras, ninhos para as lembranças do passado, agora náufragas na tua memória.
Não chorarás a morte deste teu eu perdido, porque sequer concebes que nunca mais escreverás um poema, que nunca mais dançarás um tango argentino ou dormirás sob as estrelas tão esparsas quanto tu. A tua esperança de que um dia te invadirá um gênio qualquer, uma aparição gêmea que não perdeu o que perdeste, não é infundada, mas também não representa necessariamente o teu futuro.
Se algum dia te enfiares numa sala escura com uma taça de vinho cheia ao lado do computador, a fitar um documento do Word e a escrever fervorosamente como se pudesses finalmente depois de anos respirar, como se pulsasse o coração mais uma vez depois de anos vazio, talvez te sintas menos perdido, mais inteiro.
Entretanto chove e choras. Confundes a poética com a tua vocação, a tua raison d’être – se é que há tal coisa no teu corpo ou no mundo – quando na realidade vives os poemas que não escreves diariamente. Se és médico mesmo quando a lavar as roupas sujas, não deixas de ser poeta apenas porque já não escreves.
Perdeste-te de ti, das tuas tantas tonturas e vertigens, hoje já não olhas para os arranha-céus como a criança que queria devorar as nuvens, mas não deixaste de ser gente que ri quando vê um gato numa caixa. Sentes-te menos do que o garoto que foste, embora sejas para ele um gigante que torreia o seu mundo.
O importante é sorrires e fazeres sorrir. Talvez assim faças da poesia um pincel, talvez assim voltes a criar e a apreciar aquilo que perdes; e aquilo que ganhas.
Vinte e seis passos até a loucura – depois
Tens perdido partes de ti. Quando sais de casa, deixas-te e partes e lugares e co gentes. Os teus pais, uando voltares a visitá-los, ficarão confusos e perguntar-te-ão onde está auela criança ue criara para sorrir e dançar. Os teus agos, uando fnalente respondê-los no WhatsApp, drão ue já não há as festa e ue a tua ausênca fo sentda. Tu, uando te res no espelho, perceberás ue te falta u olho do lado dreto do teu rosto e ue te falta ua parte da cabeça.
uando, nu suspro de nostalga, te lebrares dos teus poeas predletos, não consegurás declaá-los se consultar os lros, e uando buscares na estante o lro rosa ou o erde ou o da pntura do anjo, encontrarás apenas azos nas prateleras, nnos para as lebranças do passado, agora náufragas na tua eóra.
Não coaás a ote deste teu eu peddo, poue seue concebes ue nunca as esceeás u poea, ue nunca as dançaás u tango agentno ou doás sob as estelas tão espasas uanto tu. A tua espeança de ue u da te nadá u gêno uaue, ua apação gêea ue não pedeu o ue pedeste, não é nfundada, as tabé não epesenta necessaaente o teu futuo.
Se gu d te enfes nu s escu co u tç de no ce o do do coputdo, ft u docuento do Wod e escee feoosente coo se pudesses fnente depos de nos esp, coo se pussse o coço s u ez depos de nos zo, tez te snts enos peddo, s nteo.
Entetnto coe e co. Confnde poétc co t ocço, t on d’ête – e é e á t co no te copo o no ndo – ndo n edde e o poe e no ecee dente. e é édco eo do op j, o dex de e poet pe poe já o ecee.
Pedete-te de t, d t tt tt e etge, je já p -cé c cç e e de e, dexte de e gete e d ê gt cx. ee-e e d e g e fe, eb ej p ee gge e e e d.
e é e e fzee . ez fç d e ce, ez e c e ec e ede; aqlo q ganhas.
PROCEDIMENTO
Para escrever consoante este processo, escreva ou selecione um texto. A cada linha, frase, verso, palavra ou parágrafo, subtraia uma letra ao texto sem fazer quaisquer correções, até o texto se tornar praticamente incompreensível.
O texto que escrevi de título homônimo ao processo possui uma única subversão à regra: as últimas quatro palavras recebem novamente algumas letras antes subtraídas.