PROCEDIMENTO
O nome máquina inútil presta-se a múltiplas interpretações. Segundo a intenção do autor, estes objectos seriam considerados máquinas por serem feitos de várias partes móveis, ligadas entre si, e também porque a famosa alavanca (que outra coisa não é do que uma barra de ferro, de madeira ou de outro material) é uma máquina, ainda que de primeiro grau. Inúteis porque não produzem, como as outras máquinas. bens de consumo material, não eliminam mão-de-obra nem dão origem a aumentos de capital. Houve quem sustentasse, pelo contrário, que eram muitíssimo úteis, na medida em que produziam bens de consumo espiritual (imagens, sentido estético, educação do gosto, informações cinéticas, etc.). Outros confundiam estas máquinas inúteis pertencentes ao mundo da estética com as máquinas humorísticas desenhadas quando era estudante, com o único objectivo de fazer rir os amigos. Estas máquinas humorísticas foram na altura publicadas pela editora Einaudi num livro, que hoje é impossível encontrar, intitulado: Le macchine di Munari. Eram projectos de estranhas construções concebidas para puxar a coleira dos cães preguiçosos, para antever a aurora,’ para tornar musical o choro e outras coisas esquisitas, inspiradas no famoso projectista americano Rube Goldberg.
Munari, Bruno; "A arte como ofício", Edições 70, 2019
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