ENTREVISTA
Maria Stella
E - O que nos mobilizou fundamentalmente a realizar esta entrevista foi a experiência de estranhamento familiar, uma espécie de espanto, mas também de empatia, despertada por ocasião da apresentação do seu romance O cheiro do ralo. À medida que ia contando a respeito do protagonista, a maioria das pessoas foi passando a detestá-lo e ao mesmo tempo a empatizar-se com ele. Algumas pessoas mudavam de lugar, tentando aproximar-se de si, enquanto outras levantavam e deixavam a sala... E assim foi... O facto é que esta vivência teve a força de resistir dentro de nós até hoje, sustentando o desejo de marcar este encontro. E, no entanto, são ideias tão simples as que apresenta: a beleza da simplicidade, a apologia da calma num mundo que corre a cada dia.
A - O que vou publicando sai-me naturalmente. Deixa-me com a sensação apaziguante de que é um trabalho genuíno. Permite-me um auto-domínio e uma inserção na espantosa realidade das coisas. Permite-me reflectir. Costumo dizer que o meu trabalho é um mergulho.
E - Sente-se, de alguma maneira, legítimo herdeiro dos velhos cronistas do Reino?
A - Acho que sim. O meu pai gostava muito de História e tinha uma propensão para preferir a Idade Média por um certo Romantismo. Os escritores antigos falavam no ípsilon. É um caminho que se divide em duas partes, nós vamos por um lado ou por outro. É uma expressão simbólica, porque na realidade há muitos caminhos. Creio que os que se dedicam à escrita da história se superestimem como grupo quando supõem poder, por suas narrativas, cultivar ou estabelecer identidades políticas, o que, de certa maneira, é uma esperança idealista de muitos narrativistas. Mas há “o” caminho.
E – E esse caminho trouxe-o até aqui. À capacidade de inspirar emoções díspares e marcar a diferença.
A – Vejamos a coisa deste modo. Não tenho uma posição predeterminada sobre o que sou como viajante. Viajei muito sozinho ao fazer as minhas pesquisas e o que fui aprendendo foi a base para o meu trabalho.
E – Esse conhecimento do mundo traz um pouco de tudo. Questionar pode ser um verdadeiro inferno e, no entanto, é a beleza que transborda para as obras e que nos convoca e questiona. Não usa palavras caras, as imagens são banais, mas ainda assim com algo que as distingue do dia a dia.
A - Acho que, às vezes, as pessoas respeitam demasiado algumas coisas e por isso elas se repetem tanto. Acho que deveriam colocar assim: é isso que quero fazer e posso fazer desta forma e pronto. Para conhecer a verdade, é preciso, de início, colocar todos os nossos conhecimentos em dúvida. É necessário questionar tudo o que nos foi dado como verdadeiro e analisar, criteriosamente, se existe algo na realidade de que possamos ter plena certeza.
PROCEDIMENTO
Entrevista faux
FONTES
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31062008000200026
http://www.goncalocadilhe.com/entrevistas/201110_montepio.pdf
http://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/884/585
Maria Stella
E - O que nos mobilizou fundamentalmente a realizar esta entrevista foi a experiência de estranhamento familiar, uma espécie de espanto, mas também de empatia, despertada por ocasião da apresentação do seu romance O cheiro do ralo. À medida que ia contando a respeito do protagonista, a maioria das pessoas foi passando a detestá-lo e ao mesmo tempo a empatizar-se com ele. Algumas pessoas mudavam de lugar, tentando aproximar-se de si, enquanto outras levantavam e deixavam a sala... E assim foi... O facto é que esta vivência teve a força de resistir dentro de nós até hoje, sustentando o desejo de marcar este encontro. E, no entanto, são ideias tão simples as que apresenta: a beleza da simplicidade, a apologia da calma num mundo que corre a cada dia.
A - O que vou publicando sai-me naturalmente. Deixa-me com a sensação apaziguante de que é um trabalho genuíno. Permite-me um auto-domínio e uma inserção na espantosa realidade das coisas. Permite-me reflectir. Costumo dizer que o meu trabalho é um mergulho.
E - Sente-se, de alguma maneira, legítimo herdeiro dos velhos cronistas do Reino?
A - Acho que sim. O meu pai gostava muito de História e tinha uma propensão para preferir a Idade Média por um certo Romantismo. Os escritores antigos falavam no ípsilon. É um caminho que se divide em duas partes, nós vamos por um lado ou por outro. É uma expressão simbólica, porque na realidade há muitos caminhos. Creio que os que se dedicam à escrita da história se superestimem como grupo quando supõem poder, por suas narrativas, cultivar ou estabelecer identidades políticas, o que, de certa maneira, é uma esperança idealista de muitos narrativistas. Mas há “o” caminho.
E – E esse caminho trouxe-o até aqui. À capacidade de inspirar emoções díspares e marcar a diferença.
A – Vejamos a coisa deste modo. Não tenho uma posição predeterminada sobre o que sou como viajante. Viajei muito sozinho ao fazer as minhas pesquisas e o que fui aprendendo foi a base para o meu trabalho.
E – Esse conhecimento do mundo traz um pouco de tudo. Questionar pode ser um verdadeiro inferno e, no entanto, é a beleza que transborda para as obras e que nos convoca e questiona. Não usa palavras caras, as imagens são banais, mas ainda assim com algo que as distingue do dia a dia.
A - Acho que, às vezes, as pessoas respeitam demasiado algumas coisas e por isso elas se repetem tanto. Acho que deveriam colocar assim: é isso que quero fazer e posso fazer desta forma e pronto. Para conhecer a verdade, é preciso, de início, colocar todos os nossos conhecimentos em dúvida. É necessário questionar tudo o que nos foi dado como verdadeiro e analisar, criteriosamente, se existe algo na realidade de que possamos ter plena certeza.
PROCEDIMENTO
Entrevista faux
FONTES
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-31062008000200026
http://www.goncalocadilhe.com/entrevistas/201110_montepio.pdf
http://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/884/585