CHAMBER MUSIC
Ana Vasconcelos
Antes, é a infância, um tempo, cuja memória persistirá como a beleza longínqua do Sol. Até mesmo os humanos movem-se num sonho idílico, uma alegria ingénua coroa as suas inúmeras graças; fértil, generoso, tranquilo, o mundo evoca esta alegoria da Irlanda antiga em que se veem pastar nos ricos prados, o olhar da deusa, carneiros, vacas e veados.
A oriente ergue-se gradualmente a aurora,
A minha alma caminha comigo, forma das formas.
Alma minha, esquece o torpor e o desfalecimento do amor.
Amor, amor, amor, porque me deixaste sozinho?
Bloom. Sim, pela palavra de um Bloom, não tardarei a entrar na cidade dourada do porvir, a nova Bloomusalem, na nova Hibernia do futuro.
Chamber Music, Elkin Mathews, Vigo Street, London, 1907.
Como a história de Erin, a vida de Joyce divide-se no exílio do herói.
Céus sem aves mar cinzento uma estrela perdida.
De impalpáveis teias de aranha.
Derradeira etapa do poente, a Irlanda é a última terra a ver o dia extinguir-se.
Dear dirty Dublin; o seu paraíso terrestre, perdido e detestado, amado e reencontrado, a sua Atlântida, a sua Ítaca ...
Dubliners
E para sempre me deixaste nos caminhos escuros da minha amargura: e com um beijo de cinza beijaste a minha boca.
Esquece o torpor e o desfalecimento do amor,
E agita o ouro e estremece o pardo,
Enquanto por virtude inefável e secreta,
E os sábios coros do grande encantamento,
Erin, verde gema do mar de prata.
Falta de objetividade que Joyce deplora nos volúveis do Teatro Irlandês.
Finnegans Wake
Gente de Dublin
Há um exílio económico e outro espiritual,
Há "semanas e semanas" Joyce experimentava no seu país o pior exílio, quando se decidiu, como Telémaco, a "vogar pela bruma dos mares".
Inúmeros! abrem a festa.
Instituir na literatura uma franqueza total.
James Joyce convencido de que ninguém presta à sua geração "Um serviço maior do que aquele que, pela arte, ou pela existência, lhe fornece a dádiva de uma certeza", relações mais essenciais de que o poeta é o cerne da sua época, "com a qual ninguém estabelece relações mais essenciais que as suas".
Krishna, a costa do preto.
Lembra-te, Erin, das tuas gerações e dos teus dias de outrora.
Lady Gregory com o seu novo teatro tenta ingenuamente salvar o celtismo.
Mas tu amamentaste-me com amargo leite: a minha lua e o meu sol tu os extinguiste para sempre.
Maravilhado, Joyce descobria Ibsen, Hauptmann, D'Annunzio, Flaubert, Maupassant, Maeterlinck, Verlaine, Mallarmé, Dostoievski, Wilde, James, Nietzsche ... E estas leituras estavam ainda longe de saciar a sua curiosidade pantagruélica.
Não continuarei a servir aquilo em que já não acredito, chame-se meu lar, minha pátria ou minha religião.
Noite em que germinam todos os sonhos, a grande noite oceânica em que se perde Anna Livia.
Não ouço por causa das fugidias ondas do Liffey.
Não ouço por causa das ondas de.
Nora Barnacle: "Tenho a sorte de estar casada com o escritor mais famoso do mundo."
Olha para diante agora, meu povo, para a terra prometida... onde brotam o leite e o mel,
Onde docemente enrubescem fogos ora surgidos,
Os Cadernos de Joyce, frases descosidas, A Terra é um ser vivo. A artilharia dos céus, a peça de Synge é grega, diz Yeats.
Por fim, decidido a "dizer tudo", como os comediantes de Hamlet, iria, se necessário, até às últimas negações:
Qual é a maior obra de arte de Joyce?
Qual é a maior obra de arte de Shakespeare?
T. S. Eliot
Que atravessa o Ocidente.
Recorda-te ...
Restava-lhe abandonar o "Bairro de São Patrício" e engrossar o bando de "patos bravos" que, todos os anos, desertavam da pátria ingrata.
Retrato do Artista quando Jovem
Soprava baixinho a sua felicidade.
Te recorda.
Toda a obra de Joyce é um conjunto, T. S. Eliot.
Tons violeta do poente, música no ar, salgueiros junto ao rio, cornetas de querubins, ventos de Maio sobre o mar, tímido luar, doces damas cantando ...
Tocam os carrilhões floridos pela manhã.
Tratarei de exprimir-me em algum modo de vida ou de arte, tão livremente como possa, tão plenamente como possa, usando para minha defesa, as únicas armas que me permito usar: silêncio, exílio e astúcia.
Tantas ondas do rio, cursoecorrentes ondas de.
Uma natureza ornada de nuvens e flores oferece auroras azuis, praias douradas e riachos cristalinos;
Vê! A árvore é toda suspiros, a quem o dia nascente cada folha castigou.
Viagem total, não qualquer momento dela, que lhe assegura um lugar único entre os maiores, T. S. Eliot.
W. B. Yeats, The Wanderings of Oisin tenta ingenuamente salvar o celtismo.
Xylofonia, no conto "Grace", em Dubliners.
Yeats
O bom Yeats, que aguardava em Londres o filho pródigo, durante dias chamou a si o dever de o passear e alimentar.
Zurzir, as personagens são constantemente provocadas e ridicularizadas.
Finnegans Wake
PROCEDIMENTO
Abecedário produzido a partir de fragmentos das obras de James Joyce, entremeados com versos de Chamber Music do mesmo autor.
Ana Vasconcelos
Antes, é a infância, um tempo, cuja memória persistirá como a beleza longínqua do Sol. Até mesmo os humanos movem-se num sonho idílico, uma alegria ingénua coroa as suas inúmeras graças; fértil, generoso, tranquilo, o mundo evoca esta alegoria da Irlanda antiga em que se veem pastar nos ricos prados, o olhar da deusa, carneiros, vacas e veados.
A oriente ergue-se gradualmente a aurora,
A minha alma caminha comigo, forma das formas.
Alma minha, esquece o torpor e o desfalecimento do amor.
Amor, amor, amor, porque me deixaste sozinho?
Bloom. Sim, pela palavra de um Bloom, não tardarei a entrar na cidade dourada do porvir, a nova Bloomusalem, na nova Hibernia do futuro.
Chamber Music, Elkin Mathews, Vigo Street, London, 1907.
Como a história de Erin, a vida de Joyce divide-se no exílio do herói.
Céus sem aves mar cinzento uma estrela perdida.
De impalpáveis teias de aranha.
Derradeira etapa do poente, a Irlanda é a última terra a ver o dia extinguir-se.
Dear dirty Dublin; o seu paraíso terrestre, perdido e detestado, amado e reencontrado, a sua Atlântida, a sua Ítaca ...
Dubliners
E para sempre me deixaste nos caminhos escuros da minha amargura: e com um beijo de cinza beijaste a minha boca.
Esquece o torpor e o desfalecimento do amor,
E agita o ouro e estremece o pardo,
Enquanto por virtude inefável e secreta,
E os sábios coros do grande encantamento,
Erin, verde gema do mar de prata.
Falta de objetividade que Joyce deplora nos volúveis do Teatro Irlandês.
Finnegans Wake
Gente de Dublin
Há um exílio económico e outro espiritual,
Há "semanas e semanas" Joyce experimentava no seu país o pior exílio, quando se decidiu, como Telémaco, a "vogar pela bruma dos mares".
Inúmeros! abrem a festa.
Instituir na literatura uma franqueza total.
James Joyce convencido de que ninguém presta à sua geração "Um serviço maior do que aquele que, pela arte, ou pela existência, lhe fornece a dádiva de uma certeza", relações mais essenciais de que o poeta é o cerne da sua época, "com a qual ninguém estabelece relações mais essenciais que as suas".
Krishna, a costa do preto.
Lembra-te, Erin, das tuas gerações e dos teus dias de outrora.
Lady Gregory com o seu novo teatro tenta ingenuamente salvar o celtismo.
Mas tu amamentaste-me com amargo leite: a minha lua e o meu sol tu os extinguiste para sempre.
Maravilhado, Joyce descobria Ibsen, Hauptmann, D'Annunzio, Flaubert, Maupassant, Maeterlinck, Verlaine, Mallarmé, Dostoievski, Wilde, James, Nietzsche ... E estas leituras estavam ainda longe de saciar a sua curiosidade pantagruélica.
Não continuarei a servir aquilo em que já não acredito, chame-se meu lar, minha pátria ou minha religião.
Noite em que germinam todos os sonhos, a grande noite oceânica em que se perde Anna Livia.
Não ouço por causa das fugidias ondas do Liffey.
Não ouço por causa das ondas de.
Nora Barnacle: "Tenho a sorte de estar casada com o escritor mais famoso do mundo."
Olha para diante agora, meu povo, para a terra prometida... onde brotam o leite e o mel,
Onde docemente enrubescem fogos ora surgidos,
Os Cadernos de Joyce, frases descosidas, A Terra é um ser vivo. A artilharia dos céus, a peça de Synge é grega, diz Yeats.
Por fim, decidido a "dizer tudo", como os comediantes de Hamlet, iria, se necessário, até às últimas negações:
Qual é a maior obra de arte de Joyce?
Qual é a maior obra de arte de Shakespeare?
T. S. Eliot
Que atravessa o Ocidente.
Recorda-te ...
Restava-lhe abandonar o "Bairro de São Patrício" e engrossar o bando de "patos bravos" que, todos os anos, desertavam da pátria ingrata.
Retrato do Artista quando Jovem
Soprava baixinho a sua felicidade.
Te recorda.
Toda a obra de Joyce é um conjunto, T. S. Eliot.
Tons violeta do poente, música no ar, salgueiros junto ao rio, cornetas de querubins, ventos de Maio sobre o mar, tímido luar, doces damas cantando ...
Tocam os carrilhões floridos pela manhã.
Tratarei de exprimir-me em algum modo de vida ou de arte, tão livremente como possa, tão plenamente como possa, usando para minha defesa, as únicas armas que me permito usar: silêncio, exílio e astúcia.
Tantas ondas do rio, cursoecorrentes ondas de.
Uma natureza ornada de nuvens e flores oferece auroras azuis, praias douradas e riachos cristalinos;
Vê! A árvore é toda suspiros, a quem o dia nascente cada folha castigou.
Viagem total, não qualquer momento dela, que lhe assegura um lugar único entre os maiores, T. S. Eliot.
W. B. Yeats, The Wanderings of Oisin tenta ingenuamente salvar o celtismo.
Xylofonia, no conto "Grace", em Dubliners.
Yeats
O bom Yeats, que aguardava em Londres o filho pródigo, durante dias chamou a si o dever de o passear e alimentar.
Zurzir, as personagens são constantemente provocadas e ridicularizadas.
Finnegans Wake
PROCEDIMENTO
Abecedário produzido a partir de fragmentos das obras de James Joyce, entremeados com versos de Chamber Music do mesmo autor.