A URSS
Teresa Botelho
A imagem que tínhamos da Rússia, era a de uma sociedade com intelectuais, escritores, músicos, atletas e cientistas, todos evangelizadores da ideologia comunista.
Imaginávamo-los numa eterna e violenta guerra civil desde os Czares, depois a revolução, depois o regime comunista, até que um dia chegariam ao almejado sonho ocidental da democracia parlamentar. O nosso sonho induzido.
Nesse verão de 75, os meus pais e muitos dos seus amigos, compraram aquela que viria a ser a primeira grande viagem das suas vidas de classe média.
Moscovo, com passagem por Sampetersburgo.
A nossa recente liberdade permitia-nos ver de perto aquela sociedade veiculada de modos tão díspares. Os monstros comedores de crianças, o tema de Lara no Dr. Jivago, os bailes em que desmaiavam as heroínas de Dostoiévski, as balalaicas, a cruz ortodoxa, os edifícios brutais, as lojas do povo sem alimentos…
Os soviéticos construíam edifícios brutalistas, baseados no seu imaginário do ocidente. Li uma vez que se inspiravam nas torres e nos arranha céus que anteviam pelas janelas dos veículos, em que eram transportados nas poucas ingressões na Europa e nos EUA.
É uma imagem muito poética, essa.
A de que se cria com base em imagens que retivemos pelo canto do olho, ou por revistas desbotadas, ou por descrições faladas.
E pela primeira vez, os portugueses que não tinham qualquer filiação ou ideologia de esquerda, podiam entrar naquele mundo. Que em alguns aspetos era a cópia da ideia que tinham do nosso mundo.
O “atraso” deles e o nosso.
Como no jardim zoológico do Alberto Pimenta: “de um lado os que veem, do outro os que são vistos”.
PROCEDIMENTO
Grelha
FONTE
Ler, verão 2017 (“A Revolução que também devorou os seus escritores” de Luís Naves)
Teresa Botelho
A imagem que tínhamos da Rússia, era a de uma sociedade com intelectuais, escritores, músicos, atletas e cientistas, todos evangelizadores da ideologia comunista.
Imaginávamo-los numa eterna e violenta guerra civil desde os Czares, depois a revolução, depois o regime comunista, até que um dia chegariam ao almejado sonho ocidental da democracia parlamentar. O nosso sonho induzido.
Nesse verão de 75, os meus pais e muitos dos seus amigos, compraram aquela que viria a ser a primeira grande viagem das suas vidas de classe média.
Moscovo, com passagem por Sampetersburgo.
A nossa recente liberdade permitia-nos ver de perto aquela sociedade veiculada de modos tão díspares. Os monstros comedores de crianças, o tema de Lara no Dr. Jivago, os bailes em que desmaiavam as heroínas de Dostoiévski, as balalaicas, a cruz ortodoxa, os edifícios brutais, as lojas do povo sem alimentos…
Os soviéticos construíam edifícios brutalistas, baseados no seu imaginário do ocidente. Li uma vez que se inspiravam nas torres e nos arranha céus que anteviam pelas janelas dos veículos, em que eram transportados nas poucas ingressões na Europa e nos EUA.
É uma imagem muito poética, essa.
A de que se cria com base em imagens que retivemos pelo canto do olho, ou por revistas desbotadas, ou por descrições faladas.
E pela primeira vez, os portugueses que não tinham qualquer filiação ou ideologia de esquerda, podiam entrar naquele mundo. Que em alguns aspetos era a cópia da ideia que tinham do nosso mundo.
O “atraso” deles e o nosso.
Como no jardim zoológico do Alberto Pimenta: “de um lado os que veem, do outro os que são vistos”.
PROCEDIMENTO
Grelha
FONTE
Ler, verão 2017 (“A Revolução que também devorou os seus escritores” de Luís Naves)